Nossas vidas estão recheadas de histórias de super-heróis desde que as primeiras lendas mitológicas começaram a ser contadas. De Hércules até Batman, as pessoas se divertem ao se depararem com narrativas de heróis que vivem para vencer o mal e os vilões sempre dispostos a ser uma ameaça. Mas enquanto algumas histórias mantém o mesmo padrão de heróis e vilões clássicos, outras avançam em narrativas mais profundas sobre o que é ser herói ou vilão, bom ou mal e o que é certo ou errado.
Os formatos clássicos são bem conhecidos: os heróis são aqueles que vivem para lutar pela justiça, nunca mostrando traços de desvirtuamento, como se fossem seres completamente divinos, buscando a paz e a ordem; já os vilões clássicos querem conquistar o mundo, destruir uma cidade, o poder total, controlar todas as pessoas etc. O que acontece é que esses vilões, assim como os heróis perfeitos são simples arquétipos mal aprofundados. É claro que um vilão tem seus motivos mais íntimos para querer conquistar uma cidade do que por simples capricho.
E ainda que estejamos acostumados a ver histórias de heróis, os vilões deveriam ter mais crédito, pois tem tanta importância quanto os próprios heróis. Eles são opostos perfeitos em equilíbrio. Sou capaz de dizer que o herói perde sua importância sem um vilão, um inimigo com que se identificar. Talvez a pessoa mais próxima de um herói seja o seu arqui-inimigo. Mesmo que opostos, ambos vivem com um só objetivo e transformam suas vidas na busca desse objetivo. O vilão é o que melhor entende o herói, e o herói é o que melhor entende o vilão. Podemos perceber isso quando observamos personagens que fogem do modelo clássico e percebemos que são bem mais do que gênios do mal e benfeitores imaculados. É nesse ponto que o certo e o errado são postos cuidadosamente em uma balança.
Aqui a linha entre vilão e herói enfraquece. Como por exemplo, Adrian Veidt em Watchmen, o vilão da história, mas em sua cabeça, tudo o que faz é pelo bem e por isso não mostra arrependimento em matar milhões de pessoas com a justificativa de salvar bilhões. Essa foi sua forma de fazer o que é certo. Ele se considera um herói, mas é um vilão com uma intenção questionável. Do outro lado, temos o papel do anti-herói, que combate o mal deixando de lado a perfeição dos heróis clássicos. O anti-herói vai fazer o que é possível para alcançar sua missão de fazer o bem, mesmo que exija certas medidas também questionáveis, como torturar alguém para conseguir informações, com a justificativa de que os fins justificam os meios.
Ninguém tem mais vontade de ver um Batman que, em uma perseguição, não arranca antes de colocar o cinto de segurança e para em um semáforo vermelho, como na série estrelada por Adam West. Heróis mais humanos, com problemas, dúvidas e sua parcela de maldade contrastam com vilões que buscam a ordem, a paz, mas de uma maneira considerada errada e cruel. Quando olhamos mais profundamente para os dois lados da moeda, vemos que eles talvez não sejam tão diferentes assim.
Contudo, normalmente as pessoas criam maior empatia pelos heróis, afinal, eles estão lutando pelo lado certo da história. Mesmo assim, não é de agora que nos sentimos atraídos por alguns vilões. Seja de um dos vilões mais adorados da história do cinema, como Darth Vader, ou os vilões de novelas como Carminha e Félix que se tornaram peças chaves, escurecendo as protagonistas sem sal. Mas então, por que sentimos atração pelos vilões? Não seria o certo querer que apenas os bonzinhos se dessem bem? Ainda assim, sem qualquer constrangimento torcemos muitas vezes pelo vilão. Acredito que a resposta seja porque somos muito parecidos com eles. Ninguém é tão perfeito ou tem códigos de honra tão fortes como os heróis. Já os vilões agem com emoção e se deixam levar por escolhas erradas assim como qualquer pessoa normal. Em muitas ocasiões um vilão parece muito mais humano do que um super-herói.
É certo que quanto mais profundamente é analisada uma personagem e o lado que escolheu lutar, em mais questionamentos complexos nos encontramos. Em todo heróis há um pouco de vilão e todo vilão tem um pouco de herói.